segunda-feira, 19 de abril de 2010

A Lua que seria um Planeta


Era uma noite escura e tempestuosa em Titã. Mas frequentemente é assim. Uma neblina espessa e fumacenta está em toda parte, obscurecendo o Sol e Saturno. A distância, a chuva cai torrencialmente.


Titã, o maior satélite natural de Saturno, não deveria ser chamado de lua. Tem uma atmosfera mais espessa que a da Terra e superfície acidentada.

Se não soubéssemos que as imagens vieram de Titã, poderíamos pensar que fossem de Marte ou mesmo da Terra. Algumas pessoas na sala de controle viram a costa da Califórnia, outras, a Riviera Francesa, e uma dela disse que a maior lua de Saturno parecia seu quintal em Tucson. Por três semanas, a sonda Huygens ficou à deriva, dormente, após se desprender da espaçonave Cassini e ser mandada a caminho de Titã. Assistindo às cenas ansiosamente, sentimos profunda conexão com a sonda. Não apenas havíamos trabalhado na missão durante grande parte de nossa carreira, mas desenvolvemos seus sistemas e instrumentação, pondo nossa mente em seu lugar para imaginar como ela funcionaria em um mundo alienígena e desconhecido. Imaginávamos que Titã fosse parecida com as outras grandes luas do Sistema Solar exterior, como Calisto, cheia de crateras, ou como Ganimedes, repleta de ranhuras.

E assim, em 14 de janeiro de 2005, no Centro Europeu de Operações Espaciais, em Darmstadt, Alemanha, as imagens causaram tanto júbilo quanto estranheza. Nenhum de nós esperava que a paisagem fosse tão parecida com a da Terra. Conforme a Huygens descia, as imagens aéreas mostravam canais afluentes de rios cortados por córregos pluviais. Ela pousou no solo úmido de uma recente enchente, decorado com pequenas pedras arredondadas. O que era estranho sobre Titã: sua misteriosa familiaridade.

Agora, cinco anos depois, tivemos tempo para digerir as descobertas da sonda e colocá-las no grande quadro que a Cassini gradualmente nos forneceu, tendo passado mais de 60 vezes por Titã em sua órbita fechada em torno de Saturno. Em tamanho (maior que Mercúrio), dinamismo (mais ativa que Marte) e atmosfera (mais espessa que a da Terra), Titã é um planeta com outro nome. Uma grande variedade de processos geológicos molda sua superfície. O metano desempenha o papel da água na Terra. Ele evapora dos lagos, forma nuvens, precipita como chuva, esculpe vales e flui novamente para os lagos. Se a atmosfera tivesse um pouco de oxigênio e a temperatura não fosse -180oC, você se sentiria em casa em Titã.

Ralph Lorenz e Christophe Sotin Ralph Lorenz, da Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory, ajudou a projetar e construir a sonda Huygens, fez os primeiros mapas de Titã com o telescópio Hubble e chefiou a equipe que planejou as observações de radar de Titã. Entre os muitos livros que escreveu está Spinning flight, no qual estuda a aerodinâmica dos frisbees. Christophe Sotin faz e analisa as observações da superfície de Titã com o Visual and Infrared Mapping Spectrometer (espectrômetro de mapeamento visual e infravermelho) da Cassini. Trabalha no Jet Propulsion Laboratory do California Institute of Technology. Lembra-se, de aos 10 anos, ter acampado em uma remota área de Brittany e ouvir rádio enquanto Neil Armstrong passeava na Lua.


http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/a_lua_que_seria_um_planeta.html

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