sexta-feira, 23 de abril de 2010

H1N1: um ano depois da pandemia



Em abril de 2009, a descoberta, no México e nos Estados Unidos, de um vírus da gripe até então desconhecido, o H1N1, despertou o fantasma de uma pandemia mortal e desatou uma rede de ações sem precedentes por parte das autoridades sanitárias, cujo criticado custo chega à casa dos bilhões de dólares.

Um ano depois, continua sem resposta a pergunta de se a decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) de declarar a primeira pandemia do século XXI foi um exagero ou até mesmo foi tomada com base em interesses comerciais.

"Foi uma decisão que custou grandes quantidades de dinheiro, que alarmou a população de todo o mundo de forma desnecessária", disse Paul Flynn, parlamentar britânico que dirige investigação do Conselho da Europa sobre o tema.

Flynn destacou que enormes quantidades de dinheiro foram destinados para a compra de antivirais e vacinas que finalmente não foram utilizadas pelo ceticismo da população em se vacinar.

Na França, por exemplo, a compra de 94 milhões de doses de vacinas teve um custo de 600 milhões de euros (800 milhões de dólares), mas menos de 10% da população se vacinou. Os Estados Unidos destinaram 1,88 bilhão de dólares para a compra de vacinas; a Alemanha, 380 milhões de dólares, e a Espanha, US$ 125 milhões.

"É um desperdício", indignou-se a senadora Marie-Christine Blandin, que participou da redação de uma investigação parlamentar francesa sobre como o problema da gripe foi tratado.

Ao ver o pouco êxito de suas campanhas, os governos se precipitaram a cancelar as vacinas encomendadas, enquanto surgiam críticas sobre as verdadeiras ganhadoras deste episódio pandêmico: as companhias farmacêuticas.

Os dois gigantes suíços do setor - Novartis e Roche - divulgaram resultados excepcionais no ano passado, impulsionados por ordens de medicação contra a gripe.

De fato, os críticos põem em destaque a suposta influência das grandes companhias farmacêuticas no tratamento que a OMS deu à epidemia.

"Tudo o que mistura dinheiro e saúde constitui um problema de credibilidade para as decisões que se tomam", afirmou Didier Tabutau, professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris.

No entanto, muitos cientistas saíram em defesa da OMS.

"Muitas das críticas são políticas. Não escutei críticas de nenhum virologista", disse John Oxford, virologista e professor da britânica Queen Mary's School of Medicine.

No fim das contas, o vírus H1N1 era desconhecido e desde que foi descoberto mostrou uma rápida capacidade de disseminação.

Com base nas pautas determinadas para uma pandemia, o comitê de especialistas da OMS declarou, em junho, a ocorrência da primeira pandemia mundial do século XXI.

Diferentes países lançaram, então, uma série de ações destinadas a adquirir antivirais enquanto se pediu que as companhias farmacêuticas desenvolvessem vacinas.

Ao mesmo tempo em que declarou a pandemia, a OMS informou que era do tipo "moderado", embora pairasse o fantasma da gripe espanhola, que matou pelo menos 40 milhões de pessoas em 1918.

O pânico tomou conta do mundo. De Tóquio à Cidade do México, máscaras e recipientes com álcool desinfetante para as mãos sumiram das prateleiras dos supermercados, enquanto se multiplicaram o fechamento das escolas e a proibição de celebrar reuniões públicas.

Em nome da "transparência" e para responder às críticas, a OMS, que nega qualquer interferência dos laboratórios em suas decisões, criou um comitê independente para avaliar a forma como a pandemia foi tratada.

À frente da OMS, Keiji Fukuda reconheceu, com a distância dos fatos, que uma melhor resposta teria gerado "menor confusão".

Os resultados do comitê serão divulgados neste outono (boreal).

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